Pensaria em Você.

A encontrei em um dia qualquer em um lugar qualquer de uma cidade cujo nome não importa. Eu estava timidamente atirado em um banco de duas patas sob árvores sem sombras. Era noite e a lua nos observava. Ela sutilmente, com seus cabelos dançantes, correu até onde eu estava, mas não por minha causa - nós nem nos conhecíamos -. Dei risos e risos por dentro, em uma felicidade estranha, por eu não estar sozinho. Ela em seus movimentos esparsos no compasso de um tempo que voa, paralisou por um instante invisível, a hora que passava. Me detive em seu sorriso, não era um sorriso largo nem vazio, nem tímido e exagerado. Era uma mistura de choro em riso sem ruído nenhum. Junto com o encanto de seu sorriso havia a maldição do seu olhar. O olhar que chama e é chama que queima e que gela... Congela ação, palavra e memória. Esqueci de tudo que me constituía e que determinava minhas atuais ações desesperadas. Só havia eu e ela, e o resto que não importava. De repente veio a sua voz, não para mim, mas veio a sua voz... Dizia coisas futilmente carregadas de sentidos vazios que preenchiam minha alma indolor. E então minhas mãos começaram a extravasar a ansiedade dos meus braços sem abraços.
Depois desse curto longo tempo de delírio real eu consegui responder ao que ela dizia. Dei um ‘oi’ um tanto quanto mudo coberto com um tímido amor puramente sem interesse algum. E ali ficamos por algumas horas ligeiras, eu e ela e mais alguém. Era esse ‘mais alguém’ que recebia o sorriso dela, o olhar dela, as palavras dela... Eu era um simples espectador de um filme sem história contagiante. Fiquei ali, e ficaria até hoje se o tempo não passasse e outras coisas não existissem. E ficaria ali se ela ainda estivesse...
Uma vez ou outra voltamos para lá e por alguns instantes o sorriso e o olhar dela são para mim, às vezes até as palavras e as suas mãos... E por todos os instantes o meu sorriso, meu olhar, minhas palavras e minhas mãos são dela. Mas todos os momentos chegam ao fim, e em todas as despedidas, disfarçadamente choradas, ela vira as costas e não olha para trás... Eu apenas espero seu corpo virar a esquina, ou sumir na neblina, para ter a certeza de que ela não voltará correndo para mim (minha única fantasia). E um dia, se ela me perguntar sobre o amor, eu direi: - “Se eu fosse pensar no amor pensaria em você”.


Cássia Fernandes.