Saudade.

Eu estive pensando e, em uma clareza das lembranças e da minha razão, eu me deixei admitir que sinto sua falta. Não uma falta simplória e superficial, mas uma falta que vem de dentro e deixa um vazio pesado como uma consciência sem limites. É por isso que resolvi voltar a escrever agora, nunca escrevi por você, nunca estivesse viva em minhas palavras, agora será impossível fingir que não houve nada entre nós. Eu poderia tentar reviver minhas memórias e sentir novamente o seu cheiro, seu olhar, seus beijos... Seria praticamente – e pateticamente - um ato suicida de alguém covarde e banal. Mas não há como mascarar minha face sem pele destruída pela ação do curto (nosso) tempo. Se eu pudesse, não deixaria você destruir meu caminho desenhado como uma estrada na areia de um lugar de ninguém. Se eu pudesse te puxaria pelo braço e faria você balançar comigo nessa minha vida incerta e coberta por fugas. Mas te deixei sozinha e não te segurei quando me enlaçasse em seu abraço apertado de desespero e de pedidos mudos. Despedidas imundas. Beijos que gritam. Carinhos renegados. Quem é você? Quem sou eu?Não soubemos brincar na seriedade que nos atingia e seriamente saímos de uma falsa brincadeira que alucina. Rápido demais! Passos rápidos, abraços rápidos... Rapidamente desviei do seu caminho e encontrei meu rumo de volta para casa. E segui em frente sozinho novamente com as velhas lembranças imprudentes e as mesmas trilhas sonoras de um disco quadrado (quebrado) por uma segurança infiel. Não cabe mais nada, nem amores, nem promessas, mentiras e muito menos verdades. Nosso canto sem paredes (transparente porque nada existe) continua parado naquele mesmo lugar debaixo da nossa chuva. Hoje eu estive lá e pisei na lembrança de um beijo arrependido na falsa ilusão de que tudo se diluísse quando eu desse as costas.

Cássia Fernandes.