A Lua Cheia.

A lua cheia – de sonhos – olhava-os de canto e iluminava o céu com a sutiliza de quem ama. Eles estavam sentados, um de frente para o outro, tentando decifrar a voz calada de cada um. Apenas os olhos diziam coisas. Olhos inconstantes os dela, diziam que amava depois que não queria, depois que desejava, depois que fugia. Ele seguia firme com seu olhar, uma vez ou outra buscava incansavelmente os lábios que desejava... Estavam ali, bem em sua frente, esperava apenas um sinal para avançar e saciar sua sede.
- ‘Está lindo o céu’. Disse ela, olhando para cima.
- ‘Sim, muito lindo’. Confirmou ele, olhando para ela.
Ela não conseguia entender que a força da beleza do céu só fazia aumentar o amor que ele sentia. Na verdade ela entendia sim. Ela sempre soube que ele nunca olhava para as estrelas quando ela fazia isso. Ela sabia que ele não tirava os olhos dela enquanto ela adorava o céu. Era essa a sua maldosa intenção.
- ‘Por que ela não me deixa?’, pensava atordoado. ‘Por que ela não me quer?’.
Então a lua fechou os olhos e ela lhe ofereceu os lábios. Ele os beijou delicadamente, tentando gravar em sua memória cada movimento que a boca dela fazia. Enquanto a beijava, sentia seu cheiro, sua pele, sua alma. Segurou-a e suas mãos diziam apenas que ela não fosse embora novamente. Ela foi. Ela sempre ia, ia para outros lábios, outras mãos, para outras estrelas. Bastava o que ela tinha para lhe dar, bastava um beijo ou outro, uma palavra ou outra.
- ‘As pessoas sempre voltam’, dizia ele.
- ‘Nem todas’, respondia ela.
Então por meio segundo ele perdia as esperanças. Todas as milhares de esperanças roubadas se escondiam dele, e as encontrava tão rápido a ponto de repetir mais uma vez a mesma frase e ouvir novamente a mesma resposta. Burrice tola a dele, se ao menos conseguisse ouvir o que a lua tentava desesperadamente lhe dizer. Sim, eu sei que lua não fala, mas quando a questão é o amor tudo que é impossível se torna provável.Ele nunca disse que a amava, não por falta de coragem ou de certeza, mas por falta de alguma coisa que destruía cada fragmento de sua alma, por falta dela. Então fechava os olhos, permitia que a lua se fizesse presente, e sonhava com ela. Apenas sonhos de lembranças tatuadas em seus lábios. Depois, apenas tatuagens das lembranças de seus sonhos.
- ‘Quero mais uma vez respirar’, dizia ele para si mesmo. O
que o mantinha vivo era o oxigênio dos beijos dela, não foram muitos – bem pelo contrário -, mas eram suficientes. Então ele partia até onde ela estava para, em uma busca incansável, ter aquilo que ela lhe negava.

ps: Para A.M

Cássia Fernandes.