Embriagada.

Nada melhor do que o esmero de um vinho, em uma noite fria e úmida, para afogar as tristezas e mágoas inventadas de um amor que nunca passou de um desejo de amar. Enquanto bebo e observo, dentro da taça, o líquido vermelho se movimentar de forma lenta e suave, concluo que o melhor a fazer é voltar a escrever. Então, procurando as melhores palavras - aquelas que não fogem da atmosfera do conjunto: frio, umidade e vinho – retorno a uma atividade há tempos esquecida.


O meu ato de escrever se foi quando ela voltou e, enquanto eu a tinha para mim, gravar palavras não era mais uma necessidade. Como pode perceber, ela se foi. Se foi pela concretude de palavras escritas... Não pronunciadas, nem mostradas, mas sim escritas! Que infame as palavras escritas! E eu as faço.


As faço simplesmente porque tudo o que é vergonhoso me atrai, e fugir do contato direto é algo vergonhoso. Talvez com ela tenha ocorrido o mesmo... Talvez, assim como eu, ela tenha se embriagado com algo parecido com o vinho e, em meio à tontura que a ilusão lhe proporcionou, ela me perdeu. Pode ser que o frio dessa noite a tenha contagiado, isso explicaria a sua frieza ao me deixar. Só me resta uma única certeza: a umidade de meus olhos já se foi. Só me resta uma conclusão: escrever é me encontrar. Fica apenas uma pergunta: onde fica o amor nessa história?

Para: P.

Cássia Fernandes.