Anonimato.

Em uma procura desesperada por respostas eu tento me encontrar em uma história qualquer. É por isso que escrevo, é para isso que eu vivo. E desfragmentando, em um ato alucinante, cada página que passa pelas minhas mãos, eu tento explicar minha real existência. Será que de fato eu existo, ou não passo de uma sombra seguindo os passos e rastros de um personagem secundário?
Vivendo e sobrevivendo de forma anônima, diante de protagonistas da vida, eu vou me perdendo na platéia de um espetáculo de sucesso e vitórias. E fico diante de um espelho quebrado pelo tempo e pelo medo na esperança iludida de poder decifrar minha face espantada por não ter expressão alguma. Então, caminho no meio de pessoas que enfeitam as grandes cidades e, entre um ou outro ato singelo, eu grito em silêncio em ouvidos surdos que passam por mim sem me notar.
E quando resolvo ter a covarde coragem de escrever minha história descubro que meu único instrumento, guardado em uma gaveta esquecida, é um lápis sem ponta. Por acreditar em destino e no acaso, resolvo – como desculpa – devolver o lápis a gaveta e continuar na mesmice de uma vida enganada por páginas esquecidas.
É quando resolvo olhar para o lado para ver a dimensão do meu mundo, que então eu percebo que não há nada além de uma cama coberta com um lençol manchado por um passado atrasado. De repente vem em minha cabeça confusa uma vontade ligeira de deitar e voltar a sonhar. Mas, como prefiro verdades a sonhos, dou as costas ao meu mundo criando um plano de me salvar.
Cássia Fernandes.